Economia Circular

O desenvolvimento sustentável requer uma alteração disruptiva na forma como as nossas sociedades e modelos de negócio se desenvolvem. Até hoje a lógica de produção e consumo tem sido assente num modelo linear:

Extração > Produção > Consumo > Descarte

Escassez de recursos naturais, produção e emissão intensa de gases com efeito de estufa e degradação ecológica representam enormes custos ambientais e também económicos e são consequência do desenvolvimento das sociedades assente neste modelo.

A degradação da natureza força-nos a procurar alternativas mais sustentáveis, que integrem não só os aspectos ambientais mas também os sociais e económicos. 

Na economia linear os recursos naturais são, agressivamente e em grandes quantidades, extraídos da natureza e transformados em produtos que são depois rapidamente descartados, deixando um legado difícil à natureza que deixa de ter capacidade para se regenerar na mesma medida em que é agredida.

O modelo da economia circular é inspirado na natureza e nos seus processos regenerativos (renova-se, restaura-se e cresce). Na natureza não há lugar a lixo. Todos os materiais, sejam sólidos, líquidos ou gases, voltam a entrar no sistema e desencadeiam processos regenerativos de forma a manter o equilíbrio dos sistemas naturais essenciais à vida.

A ideia central é a de que a natureza já resolveu muitos dos problemas com os quais estamos a lidar. Animais, plantas e micróbios são os “engenheiros” consumados.

Segundo a Fundação Ellen MacArthur, “a economia circular vê além do atual modelo industrial “utiliza-faz-possui”. Tem como objetivo concentrar-se nos benefícios positivos de uma sociedade ampla que trabalha em rede. Inclui um afastamento gradual do consumo de recursos finitos e produção de resíduos. Sustentada numa transição para as fontes de energia renováveis, o modelo circular constrói capital económico, natural e social minimizando a degradação do planeta.

Baseia-se em três princípios:

  • encontrar soluções para o lixo e poluição;
  • prevenir a produção de lixo, mantendo os produtos e os materiais em utilização;
  • regenerar os sistemas naturais.

Neste modelo há uma tentativa de limitar a lacuna entre a produção e os ciclos dos ecossistemas naturais, dos quais os seres humanos dependem. 

Resíduos
orgânicos

Isto significa que por um lado há necessidade de separar o lixo biodegradável, ou biológico, do não biodegradável, tratando-o através da compostagem e/ou digestão anaeróbia. Isto requer a participação de todos na separação e encaminhamento dos resíduos alimentares.

resíduos não orgânicos

Por outro lado, para o lixo que não é biodegradável, e aquele que já foi objeto de transformação, é necessário reutilizar, recorrer à remanufatura e não havendo mais forma de reutilizar recorrer à reciclagem. Nesse sentido é muito importante o desenho dos produtos de forma a terem maior durabilidade e facilidade na sua reparação. 

substâncias e energia limpa

Tudo isto também requer cortar no uso de substâncias químicas (uma forma de regenerar sistemas naturais) e apostar nas energias renováveis para diminuir a dependência dos combustíveis fósseis e outras vulnerabilidades apostando na produção local.

Apenas 9% da economia mundial é circular e na verdade tal é essencial para combater as alterações climáticas.

Segundo os princípios da economia circular, a energia e os recursos são ouro. No seu centro, a economia circular tem como objetivo encontrar soluções alternativas para dar nova vida aos resíduos, passando estes a ser recursos. 

De forma a conseguir alcançar este objetivo, os sistemas de produção devem ser desenhados à priori para produzir materiais duráveis, sendo otimizados para um ciclo de desmontagem e reutilização que tornará mais fácil transformar e reutilizar os materiais. São soluções de design de produto que facilitam o reaproveitamento e reciclagem dos seus componentes.

Estes produtos terão ciclos diferentes além da venda e da reciclagem, onde grandes quantidades de energia e trabalho integrado são perdidos. O objetivo último é preservar e conseguir que o capital natural melhore através da reintrodução dos recursos finitos utilizados na economia aumentando a produtividade.

Ciclos Biológicos e Ciclos Técnicos

O modelo da economia circular faz uma distinção entre os ciclos biológicos e os ciclos técnicos. Esta distinção tem a ver com o tipo de material que é consumido.

  • Os ciclos biológicos, onde existem materiais-biológicos, passíveis de se biodegradarem e integrarem os solos (como os alimentos, os tecidos, a cortiça e a madeira), devem ser desenhados de forma a que estes materiais possam ser novamente introduzidos no sistema através de processos como a digestão anaeróbica e a compostagem. Estes ciclos regeneram sistemas vivos, como o solo ou o oceano, que providenciam recursos renováveis para a economia.
  • Por seu turno, os ciclos técnicos recuperam e restauram outros materiais que não se degradam como o plástico e os metais. Produtos como máquinas de lavar, componentes eletrónicos como motherboards e outros materiais como o calcário devem ser reintroduzidos na economia através de estratégias que propiciem a reutilização, a reparação, a remanufatura e a reciclagem.
  • O último princípio da economia circular tem a ver com o facto de a energia requerida para abastecer estes ciclos ser renovável, com o propósito de diminuir a dependência dos recursos e aumentar a resiliência dos sistemas.

Desde a revolução industrial que a humanidade tem seguido um modelo linear de produção e consumo. As matérias-primas têm sido transformadas em bens que depois são vendidos, usados e transformados em lixo/resíduos. Este comportamento foi muitas vezes inconscientemente desconsiderado e gerido. A economia circular propõe-se modificar este modus operandi.

Muitos argumentam que a transição para sistemas de economia circular é mais uma responsabilidade das indústrias que devem ser impulsionadas por políticas governamentais. No entanto, os indivíduos como consumidores e também como cidadãos são um fator muito importante para motivar a indústria e os governos a acelerar a transição.